Aquisições

Os olhos cegos dos cavalos loucos 
Ignácio de Loyola Brandão
Editora Moderna

O garoto não tinha ideia do que aquilo significava para o avô, que ele tomasse posse das pequenas bolas de vidro que o velho guardava em uma pequena caixa, numa das prateleiras mais altas da sua oficina de marcenaria. Uma bola de vidro pode ser também um olho, um olho cego. O olho cego de um cavalo. O olho cego de um cavalo de carrossel. Trata-se de uma narrativa belíssima e tocante, em que o narrador dirige a seu avô já falecido seu pedido de perdão, dividindo com ele sua compreensão tardia.

A vida que ninguém vê
Eliana Brum
Arquipélago Editorial

Uma repórter em busca dos acontecimentos que não viram notícia e das pessoas que não são celebridades. Uma cronista à procura do extraordinário contido em cada vida anônima. Uma escritora que mergulha no cotidiano para provar que não existem vidas comuns. O mendigo que jamais pediu coisa alguma. O carregador de malas do aeroporto que nunca voou. O macaco que ao fugir da jaula foi ao bar beber uma cerveja. O álbum de fotografias atirado no lixo que começa com uma moça de família e termina com uma corista. O homem que comia vidro, mas só se machucava com a invisibilidade.

Essas fascinantes histórias da vida real fizeram sucesso no final dos anos 90, quando as crônicas-reportagens eram publicadas na edição de sábado do jornal Zero Hora. Reunidas agora em livro, formam uma obra que emociona pela sensibilidade da prosa de Eliane Brum e pela agudeza do olhar que a repórter imprime aos seus personagens – todos eles tão extraordinariamente reais que 
parecem saídos de um livro de ficção.

A edição, que marcou a estreia da Arquipélago Editorial, reúne as 21 melhores histórias de A Vida Que Ninguém Vê acrescidas de textos que revelam o “dia seguinte” de dois personagens emblemáticos da série de reportagens: Adail realizou seu grande sonho, enquanto Antonio sofreu de uma segunda tristeza. Ao final do volume, um texto inédito de Eliane avalia, com o distanciamento que o tempo oferece, o que há por trás dessa vida que (quase) ninguém viu. É mais uma prova da força do trabalho da autora. E uma demonstração de que a reportagem é uma arte.

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